Bonequinha de pano em farrapos...
Preenchida de migalhas de pão e macela...
De retalho em retalho foi tomando forma...
Invadida por traças...
Destroçada...
Devorada pelos corvos...
Sangrando farelos...
Sentindo de novo as fisgadas da agulha a lhe remendar...
Jogada num canto...
Até que alguém queira contigo brincar...
Sente outra vez...
O contato de mãos sem tato...
Sem cuidado...
Sem zelo...
Coraçãozinho de romã...
Se partindo em sementes infrutíferas...
O som das gralhas penetrando insistente...
Em seu sistema nervoso ausente.
Bonequinha de pano que chora...
Fazendo o cheiro do campo exalar por seus trapos...
Trazendo no inconsciente...
A lembrança dos tempos em que já fora inteira...
Uma colcha...
Um lençol...
Ou cortina...
Nada muito significante...
Mas inteira!
Imaculada...
Autêntica!
Bem diferente do que é hoje...
Essa bonequinha sem identidade...
Bem diferente do que é hoje...
Essa bonequinha sem identidade...
Remendada e imortalizada...
Bonequinha de pano em farrapos!
Bonequinha de pano em farrapos!
Simone Tavares.
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