Amor não correspondido

Ter um amor não correspondido

É como estar perdido no deserto....

Com sede e sem rumo...!

Cada gesto dado em nossa direção, por aquele que amamos...

Se mostra como miragem...

Que sempre desaparece ao nos aproximarmos,

Nos enchendo de sofrimento ainda maior.

Numa sede insaciável de aceitação e reciprocidade! 

Sorvendo gotas de carinho, com a sofreguidão de um beduíno que encontra um oásis após dias de jornada carregando cantil vazio.

Um sorriso, que apenas demonstra simpatia...

Nos dá a esperança do carinho almejado.

O afago piedoso...

A terrível sensação de humilhação.

O puro desejo carnal...

O vazio de se sentir usado.

No silêncio...

A derrota.

Na atenção...

A ilusão.

Torpe aquele que se vale do amor alheio para satisfazer seus caprichos,

Ingênuo o que se deixa levar pela aparência disfarçada de um algoz lascivo...

Numa vã esperança que teima em não morrer!

Que só vale aos propósitos da vaidade e orgulho do gentil enganador...

Em cada toque...uma viagem ao paraíso...

Em cada adeus...uma queda em choque à realidade!

Como ter o coração arrancado do peito a sangue frio...

Sendo levado para longe...em um pertencer a ninguém..nem mesmo a si próprio

Uma identidade arruinada...onde só pensamos em ser o que o outro poderia querer!

Na tristeza implacável de uma face sem rosto...

Um peito vazio...olhos sem alma...corpo sem vida.

Numa prostração, que só é contornada por dose de ternura ministrada pelo alvo de nosso afeto,

Mesmo que esta represente uma corda bamba em um picadeiro sem rede de proteção...

Onde a ruína se mostra na despedida e no silêncio inevitáveis...

O amante não correspondido...

Se põe como pássaro ordinário, que se contenta com migalhas avaras oferecidas por mãos eloquentes, 

Que vez ou outra cisma em lhe alimentar os anseios, apenas para não perder seu troféu de conquista...

Ou simplesmente, por mera comiseração inconsequente.

A um coração partido desta forma,

Só restará fazer-se fênix:

Apartando-se de espectativas infundadas,

Consumir-se em si mesmo no ninho solitário desta paixão unilateral...

Dentro deste fogo de desalento de uma alma em tormento.

Para só então...

Poder renascer e voltar a viver. 

Simone Tavares